Ameaça nuclear: os perigos e as consequências do acidente na usina atômica de Fukushima, que espalhou radiação pelo Japão e pode mudar os rumos da energia no planeta.
Editorial: O fim da era nuclear?
O futuro da energia nuclear está agora no centro do debate. A sucessão de acidentes nos reatores japoneses na tragédia que marca aquele país colocou todos em alerta. Ao longo dos últimos dias, com a ameaça de contaminação por radioatividade de milhares de pessoas, o mundo botou um pé no freio dos seus projetos atômicos. A Alemanha foi a primeira a abandonar a alternativa, fechando de imediato duas plantas em funcionamento. A Suíça anunciou a suspensão de novas licenças. Seguiram-se de atitudes semelhantes na França e Espanha até que vários representantes da União Europeia, em reunião de emergência em Bruxelas na semana passada, decretaram a reavaliação completa do sistema em operação no continente. Foi um passo importante. A Europa concentra a maior quantidade de usinas nucleares do planeta. No outro extremo, a China, que vinha erguendo nada menos que 28 usinas, parou o seu programa. A dúvida que assola o mundo: se o Japão, que era tido e havido como o mais preparado tecnologicamente para gerir plantas atômicas, está nesta situação, qual as chances de uma catástrofe nuclear de proporções intercontinentais no caso de uma usina entrar em processo semelhante em outra parte do planeta? São grandes. Especialistas dizem que esta é a mais perigosa – e cara – forma de geração de energia que se conhece. E no momento ela está a oferecer mais uma mostra de seu poder destrutivo. Desde o acidente de Chernobyl, na Rússia, não se via tamanho clamor contra a geração de energia nuclear. No Brasil, o drama japonês levou a presidente Dilma a pedir revisão do Plano Decenal de Energia, que estabelecia a conclusão de Angra Três e o investimento em outras quatro usinas semelhantes – duas no Nordeste e duas no Sul. O Brasil na prática, dada a diversidade de sua matriz, pode viver facilmente sem o uso de energia nuclear. Retomou o programa por capricho ou temor de ficar para trás em relação a outros países que já haviam adotado esse caminho, mas encontra-se na situação privilegiada de poder recorrer a alternativas abundantes e mais baratas, como as usinas hidrelétricas, eólica e de biomassa. Dada a extrema preocupação com segurança que as instalações nucleares exigem, é prudente seguir mesmo por saídas menos arriscadas. As autoridades globais, diante do desastre em Fukushima, chegaram a uma conclusão unânime e alarmante: nenhuma central nuclear do planeta está segura contra eventos sísmicos, tsunamis ou quaisquer outras manifestações de fúria da natureza como as que arrasaram o Japão. Talvez por isso mesmo estejam se convencendo de que chegou a hora de enterrar essa opção.
Carlos José Marques. Revista Isto É (23/03/2011).
Editorial: O fim da era nuclear?
O futuro da energia nuclear está agora no centro do debate. A sucessão de acidentes nos reatores japoneses na tragédia que marca aquele país colocou todos em alerta. Ao longo dos últimos dias, com a ameaça de contaminação por radioatividade de milhares de pessoas, o mundo botou um pé no freio dos seus projetos atômicos. A Alemanha foi a primeira a abandonar a alternativa, fechando de imediato duas plantas em funcionamento. A Suíça anunciou a suspensão de novas licenças. Seguiram-se de atitudes semelhantes na França e Espanha até que vários representantes da União Europeia, em reunião de emergência em Bruxelas na semana passada, decretaram a reavaliação completa do sistema em operação no continente. Foi um passo importante. A Europa concentra a maior quantidade de usinas nucleares do planeta. No outro extremo, a China, que vinha erguendo nada menos que 28 usinas, parou o seu programa. A dúvida que assola o mundo: se o Japão, que era tido e havido como o mais preparado tecnologicamente para gerir plantas atômicas, está nesta situação, qual as chances de uma catástrofe nuclear de proporções intercontinentais no caso de uma usina entrar em processo semelhante em outra parte do planeta? São grandes. Especialistas dizem que esta é a mais perigosa – e cara – forma de geração de energia que se conhece. E no momento ela está a oferecer mais uma mostra de seu poder destrutivo. Desde o acidente de Chernobyl, na Rússia, não se via tamanho clamor contra a geração de energia nuclear. No Brasil, o drama japonês levou a presidente Dilma a pedir revisão do Plano Decenal de Energia, que estabelecia a conclusão de Angra Três e o investimento em outras quatro usinas semelhantes – duas no Nordeste e duas no Sul. O Brasil na prática, dada a diversidade de sua matriz, pode viver facilmente sem o uso de energia nuclear. Retomou o programa por capricho ou temor de ficar para trás em relação a outros países que já haviam adotado esse caminho, mas encontra-se na situação privilegiada de poder recorrer a alternativas abundantes e mais baratas, como as usinas hidrelétricas, eólica e de biomassa. Dada a extrema preocupação com segurança que as instalações nucleares exigem, é prudente seguir mesmo por saídas menos arriscadas. As autoridades globais, diante do desastre em Fukushima, chegaram a uma conclusão unânime e alarmante: nenhuma central nuclear do planeta está segura contra eventos sísmicos, tsunamis ou quaisquer outras manifestações de fúria da natureza como as que arrasaram o Japão. Talvez por isso mesmo estejam se convencendo de que chegou a hora de enterrar essa opção.
Carlos José Marques. Revista Isto É (23/03/2011).
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